Os caminhos alternativos podem ser o segredo da vitória

Você vive no país do futebol, ao menos é o que as crônicas de Nelson Rodrigues te ensinaram. Ao menos é o que o Mc Guimê canta e o que os estrangeiros taxaram por décadas. Graças a Pelé, Garrincha, Marta, Zico, Falcão, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Cristiane e outros mais. Ah, e graças ao pentacampeonato na Copa do Mundo. Como pude esquecer.

Porém, o mesmo país que cria sonhos, que molda talentos, com os olhos do mundo voltados para si, é a nação onde 55% dos mais de 360 mil jogadores inscritos recebem apenas o salário mínimo (R$ 1.212, na época da pesquisa) e 33% recebem até R$ 5 mil. Os dados foram apresentados por uma pesquisa da plataforma CupomValido.com.br que reunindo informações da CBF, Statista e Ernst & Young.

Considere ainda toda a estrutura de um clube, com equipe técnica, médica, de preparação física, além dos gestores e demais setores. Poucos são os ganhos que podem passar a barreira dos 12%, que é justamente o percentual mais 'rico' dos desportistas que atuam por clubes nacionais.

Sylvinho tem aproveitamento de 66% nas 9 partidas à frente da Albânia | foto de Steffen Prößdorf

Em contrapartida, há quem tente o cenário internacional. E tratando-se especificamente de treinadores, um nome chamou a atenção na última semana: Sylvio Mendes Campos Júnior ou Sylvinho. Velho conhecido do Corinthians, pela carreira como jogador entre 1994 e 1999 e também como comandante entre 2021 e 2022.

O ex-jogador do próprio clube paulista e de europeus como Arsenal, Celta, Barcelona e Manchester City, deixou o Brasil para abraçar a oportunidade de liderar a impopular seleção da República da Albânia no primeiro dia de 2023. O país da península balcânica é vizinho da Grécia e divide o mar Adriático com a Itália.

66ª colocada no Ranking de seleções masculinas da FIFA, na oportunidade, a Albânia alcançou o feito de se qualificar para a próxima edição da Eurocopa, a ser disputada em 2024, na Alemanha. É apenas a segunda vez na história que isto acontece. Com quatro vitórias, três empates e apenas uma derrota, Sylvinho ajudou os albaneses a alcançar a primeira posição de um grupo composto ainda por República Tcheca, Polônia, Moldova e Ilhas Faroe.

Com a proeza, o país da águia de duas cabeças, já figura na 59ª posição do ranking, e Sylvinho com sua equipe receberam 1,1 milhões de euros em 18 meses. Segundo o site Glassdoor, a média salarial de técnicos no Brasil é de R$ 3 mil.

E o mais curioso ainda é o fato do treinador estar se aventurando a aprender o idioma local. O albanês é um idioma de origem latina, mas que adota grafia e expressões relativamente diferentes dos seus irmãos português, italiano e espanhol.

Ele já afirmou que a maioria do trabalho é feito em italiano, e albanês é realmente difícil. 'Arrisco algumas palavras, o bom dia, o boa tarde, o boa noite, vai pegando. São palavras isoladas […] então me viro com os demais idiomas'.

A conquista de Sylvinho trata de arriscar e alcançar algo grande para sua carreira e ter mais visibilidade sobre seu trabalho nos próximos meses. E mesmo que provavelmente mirou clubes e seleções do primeiro escalão do futebol, onde os ganhos são cinco, quando não 100 vezes maiores, aceitou um caminho alternativo, que talvez não estivesse no seu radar.